sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

a elite parola


sobre a nova ortografia levanta-se novo acesso febril. agora aproveitando o alargamento do período de transição (e não de suspensão ou adiamento da vigência do Acordo), por parte do governo brasileiro ou, se calhar também, pela mudança de secretário de Estado da Cultura. vá lá o diabo saber ao certo. o certo é que a elite parola portuguesa não para de lutar contra o interesse nacional e contra o interesse da Língua Portuguesa no mundo.
as contas são boas de fazer. somos 240 milhões de falantes e escreventes da Língua. mas só os brasileiros são 180 milhões. quer dizer, o Brasil representa 3/4 da Língua, nós e os restantes, 1/4  (e deste 1/4, como é sabido, nem todos são bem-bem lusofalantes e muito menos bem-bem lusoescreventes).

é bom de ver que, no caso de não harmonizarmos as nossas normas escritas, se não houver uma norma comum, sempre que a nível internacional se tenha de escrever em Língua Portuguesa a norma utilizada será a brasileira. isso já se verifica em documentos da própria União Europeia.

como é bom de ver, o Brasil não precisa de nós para nada. nós é que precisamos que o Brasil adira a um Acordo connosco. caso contrário, ficaremos dependentes da norma brasileira. e é muito bem feito.

mas a estupidez da elite parola portuguesa não chega lá. prefere ser autocontemplativa, auto-suficiente e pequenina.

e pior: a elite parola já não argumenta, já não dá razões. diz que a nova ortografia é "desconchavada", "pessimamente fundada" e "inútil". a elite parola é assim: decreta e já está. politicamente correta, estúpida e gravemente daninha para o País e para a Língua Portuguesa. 

gente fina é outra coisa...

que deus vos perdoe.

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PS: o que estamos a assistir é a uma rivalidade Angola-Brasil, que teríamos obrigação histórica de apaziguar e resolver, no superior interesse da Língua e da Cultura Portuguesas. pelo meio, metem-se uns pequenos interesses editoriais e umas pequenas vaidades intelectuais com medo que o Brasil os coma, em lugar de verem no Brasil uma enorme oportunidade de expansão. enfim, a inteligência ainda não é obrigatória...

domingo, 6 de janeiro de 2013

e por falar em "mito"...


esta palavra tão maltratada pelos "especialistas" de que falava Fernando Pessoa, perdão, Álvaro de Campos, tem uma origem nobre. é parente do termo técnico médico "miose", que significa "pupilas retraidas, ou fechadas". ambos os termos derivam do verbo grego "mýein" ("fechar os olhos") e refere-se a um saber que é recebido com os "olhos fechados", comunicado em segredo, portanto. 
deste modo, o significado do "mito" só é acessível aos iniciados. aos não iniciados é-lhes oferecida uma estória que contém, oculto, o significado mais profundo do mito, mas simultaneamente tem tantos níveis de significação quantos estiverem ao alcance da imaginação e da inteligência de quem o ouve ou lê. 
o número restrito de iniciados nos mitos, e a incomunicabilidade do seu conteúdo por outra forma que não seja a iniciação, promove a vulgarização dos conteúdos acessórios, que se degradam em estorietas ridicularizadas pelos "especialistas" de que falava Álvaro de Campos, perdão, Fernando Pessoa. 
e, assim, a palavra "mito", no senso comum de hoje em dia, ganhou a conotação de estória sem sentido, conto, disparate, ideia errada, lenda, invenção, falsidade.
e não é o "mito" que está errado. é quem assim pensa.

os três reis magos

o interesssante que têm os mitos cristãos é a sua raiz nos mitos, processos psíquicos e sabedorias ancestrais. um dos mais curiosos mitos cristãos é a estória dos "reis magos", um branco, um amarelo e um negro. podem representar as três grandes "raças" humanas, mas eles representam também, e sobretudo, as três etapas de preparação do "mercúrio filosofal", do qual resultará o nascimento do "rei Sol". o processo, a viagem ou "peregrinação" de oriente para ocidente, é guiado pela "estrela" até que se produza o "milagre alquímico".
não é possível esquecer as semelhanças e paralelismos com a peregrinação a Santiago de Compostela, onde o caminhante é guiado pela "estrela", rumo ao "obradoiro", ou "obra d' oiro".
mas, é claro, estas coisas de arquétipos e peregrinações interiores, já não interessam a ninguém. nem ao Menino Jesus...